DICA DE GM: Usando o código de honra

Quando um grupo de pessoas se reúne para jogar GURPS, seja lá qual campanha for, uma das desvantagens mais comuns a serem colocadas nos personagens é o Codigo de Honra. O problema é que tanto mestre quanto jogador acabam não sabendo como usar esta desvantagem...


O próprio módulo básico já diz: "O personagem tem orgulho de um conjunto de princípios que ele segue todo o tempo. Os Códigos de Honra diferem entre si, mas todos eles exigem um comportamento (segundo seus próprios padrões) 'viril', 'corajoso' e 'honrado'. Um código de honra pode também ser chamado de 'orgulho', 'machismo' ou 'fachada'. Não importa o nome, ele significa a disposição de arriscar a vida ao invés de ser considerado desonrado... seja lá o que isso
signifique."

É claro que essa definição pode tomar formas levemente diferentes em mundos de campanhas diferentes. A honra está presente em qualquer mundo de campanha (Japão feudal, 1ª e 2ª guerras mundiais, medievais, etc).

Em mundos medievais, por exemplo, é muito comum nobres ou algum posto semelhante pedirem que seus guerreiros, campeões façam juramentos. Personagens honrados farão de tudo para cumprir esses juramentos e saberão que daquele dia em diante, suas vidas estarão eternamente conectadas. Do mesmo modo, os personagens honrados pensarão duas vezes antes de fazerem um juramento a alguém porque eles acreditam que esse ato é de extrema importância. Mais uma vez uma ótima referência a esse tipo de comportamento é dada nos livros do Cornwell, especialmente, nas Crônicas Saxônicas, onde o personagem principal Uthred faz um juramento a Alfredo, Rei de Wessex e se vê "obrigado" a cumpri-lo, mesmo não suportando o cara.

O ideograma japonês para honra

O problema é que muitos jogadores ao colocarem essa desvantagem em seus personagens não atentam para a magnitude dela e só colocam para ter desvantagens e ter assim mais pontos para gastar. O que temos que pensar é que, afinal de contas, o código de honra é uma DESVANTAGEM e não uma peculiaridade ou algo por fora para compor o personagem. Além disso, muitas vezes essa desvantagem custa15 pontos!

Continuando a descrição de código de honra, o módulo báscio de GURPS atenta para isso:

"Em qualquer cultura existem aqueles que fingem respeitar, mas não têm nenhum, e outros que realmente tentam seguir um código mas não conseguem viver todo o tempo segundo seus princípios. Mas só alguém que realmente siga um código de honra pode receber os pontos relativos a esta desvantagem".

É justamente na obrigatoriedade de seguir esse código todos os dias que os jogadores normalmente pecam.


Por exemplo: quando o grupo de aventureiros estão prestes a ter o duelo final com o inimigo, depois de terem ficado meses em sua cola, eles o encontram de costas fazendo sua última prece a seu Deus, de costas para os aventureiros. Aí então que um dos jogadores "honrados" decide chegar com furtividade e apunhlá-lo pelas costas! Isso não existe! Um jogador que siga qualquer conduta honrosa NUNCA iria fazer isso! Pelo contrário, ele iria propor um duelo solitário com o inimigo.

Outras situações em que um código de conduta honrosa é normalmente violada é a tática de dois ou mais jogadores atacarem um mesmo inimigo. É claro que essa tática é realmente eficiente em termos de regras, mas o RPG também é um jogo de interpretação e por isso os personagens têm desvantagens que compõem-nos e os tornam mais reais.


Muitas vezes ter um código de honra implica em se excluir de alguns benefícios, como esse da judaria que eu citei. Mais uma vez o módulo básico (o olho que tudo vê) tenta alertar:
"Um Código de Honra é uma desvantagem porque ele exigirá, com freqüência, um comportamento perigoso (se não imprudente). Além disso, uma pessoa honrada pode ser forçada a situações desfavoráveis, porque seus inimigos sabem que ela tem honra."

É claro que os jogadores podem violar seu código de honra e assim perder um ponto de experiência no final do jogo. Mas a intenção é que o jogador se sinta como o personagem, que arriscaria sua vida chamando o melhor guerreiro do reino para um duelo porque ele o desonrou. Mesmo sabendo que iria para o saco depois (ops, pra quem não entendeu é uma gíria pra dizer que ele vai morrer). Os mestres, é claro, acabam ficando com mãos atadas quando os jogadores vão violar seus códigos, sabem que vão perder um ponto de experiência e não ligam.


A idéia central não é só fazer com que os jogadores reflitam sobre o código de honra e como eles o interpretam em seus personagens. Mas também fazer com que o mestre discuta na hora da criação do personagem o que é ser um personagem honrado e a partir daí, explorar melhor essa desvantagem na narração, fazendo com que o jogador preste juramento a alguém que salvou sua vida, por exemplo, e sofrer as consequências disso. O que pode levar a muitos bons ganchos de aventuras.

Rodrigo Polak